quinta-feira, 20 de maio de 2010

QUEM TEM EXPERIÊNCIA. (cavalão apoia sempre a criatividade e liberdade de expressão)

Num processo de seleção da Volkswagen, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta: Você tem experiência? A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos. Ele foi aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e ele com certeza será sempre lembrado por sua criatividade, sua poesia, e acima de tudo por sua alma.

rEDAÇÃO VENCEDORA:

Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de
chorar, já me
queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e
melequei
todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já
brinquei de ser
bruxo.

Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e
trapezista. Já
me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.
Já passei trote
por telefone. Já tomei banho de chuva e acabei me
viciando.

Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho
errado e
continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da
panela
de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba
apressado, já chorei
ouvindo música no ônibus.

Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas
são as
mais difíceis de esquecer. Já subi escondido no telhado
pra tentar
pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já
caí da escada de
bunda.

Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já
chorei sentado
no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre, e voltei
no outro
instante.

Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei
sozinho no meio
de mil pessoas Sentindo falta de uma só.

Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei
na piscina
sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir
dormentes os meus
lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não
encontrei meu lugar.

Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase
morri de amor,
mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém
especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de
levantar.

Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de
felicidade, já
roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei
que
era para sempre, mas sempre era um “para sempre” pela
metade.

Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já
chorei por
ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e
a vida
é mesmo um ir e vir sem razão.

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas
lentes da
emoção, guardados num baú, chamado coração.
E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e
grita:
“Qual sua experiência?”.

Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência. Será que
ser
“plantador de sorrisos” é uma boa experiência? Não!
Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!
Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem
formulou esta
pergunta:

“Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo se renova?”*

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